Culpa antes, e culpa depois do ato.
“(...) Catapora
Culpa
Cárie
Cãibra
Lepra
Afasia
E o pulso
Ainda pulsa...” Titãs.
Note que o poeta coloca a culpa entre “outras” doenças.
A culpa é um sentimento estranho. Serve para alguma coisa antes do ato, pois às vezes o impede. Mas aí não é culpa: é vergonha, então não vale. Culpa posterior é inútil.
Freud escreveu sobre três tipos de personalidade considerando como cada uma delas lida com o sentimento de culpa: Tem aqueles que são arruinados pelo êxito: sentem-se extremamente angustiados quando conseguem realizar um desejo há muito desejado; Há quem cometa crimes para expiar a própria culpa - eles sentem culpa, e quem "paga" são os outros; E tem aquelas "figuras" que acham que já fizeram muito sacrifício na vida, e que agora, merecem ser indenizadas pelos outros, por uma questão de "justa" compensação. Sobre este último tipo, um paciente inteligentíssimo disse brincando: "Hoje em dia, as pessoas já nascem assim!".
A culpa é uma herança do supereu/superego: instância psíquica que internaliza as proibições paternas. Acontece que, olha que "fácil": a mesma instância que proíbe, incita. Não é difícil associar isto aos efeitos que as propagandas têm na captura dos nossos desejos mais culposos.
Diferente da culpa, o sentimento de culpa, que não serve para nada, é como andar por aí com uma capa de chuva molhada sem ter tomado a chuva.
Havemos de inventar uma outra maneira de lidar com este sentimento que rege a nossa vida sem que percebamos.